"Sem paixão não dá nem pra chupar um Chicabon."
Nelson Rodrigues

sábado, 27 de novembro de 2010

A revolução não será televisionada.

A guerra nunca esteve tão distante. As imagens da televisão garantem uma distância segura para mim e para você (nisso somos iguais). Tanto faz uma guerra no Iraque, no Afeganistão ou no Alemão (até os tanques são os mesmos).

Enquanto isso eu e você vamos nos divertir nas bordas dos nossos clusters (quadradinhos em um mapa digital), devidamente seguros com ruas fechadas e entradas controladas pela polícia, dispostos a morrer de conforto ao vaiar quando passa o caveirão no território que foi dado de esmola para nossa "liberdade".

Vaias para mim, vaias para você.
Vaias para eles.
"Enquanto o dedo aponta a lua, o imbecil olha pra globo."

domingo, 25 de julho de 2010

Não vou me adaptar.


" Há algumas coisas em nossa sociedade, e algumas coisas no nosso mundo às quais eu me orgulho de ser desajustado."

Martin Luther King

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Qual o preço da sua liberdade?


Somos livres ou ser livre é mais uma invenção, um produto luxuoso na prateleira do supermercado que pode ser negociado, leiloado, penhorado, comprado com cartão em suaves prestações? Ser livre é dar vazão aos desejos em lugares hermeticamente fechados (como um blog) com ou sem câmeras posicionadas, com lista amiga na porta pra pagar mais barato, onde a casta dos livres pode negociar seus desejos com segurança? Por quanto você negocia a sua liberdade? Para quem você vende seus desejos? Qual o preço que você paga pelo desejo dos outros, quais são as suas condições e formas de pagamento? Qual o valor da moeda que você usa?

O dinheiro é um pedaço de papel mesmo sendo de plástico, e isso não quer dizer que não precisamos dele no momento. A palavra é um pedaço de papel borrado mesmo sendo na tela, e isso não quer dizer que não precisamos dela para sempre.

"Quando o dedo aponta a lua, o imbecil olha o dedo."

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Fita Branca


A Fita Branca – Um filme sobre culpa e castigo

“Como pode haver tanta gente que gosta de conviver com os tiranos e que nem um só tenha inteligência e ousadia que bastem para lhes dizer o que a raposa respondeu ao leão que se fingia doente: “De boa mente entraria no teu covil; mas só vejo pegadas de bichos que entram e nenhuma dos que dele tenham saído”.
(Étienne de La Boétie – Discurso Sobre a Servidão Voluntária)

A Fita Branca mostra a vida em uma aldeia da Alemanha pouco antes do início da primeira guerra mundial. Na aldeia, a máxima autoridade política é o barão, para quem quase todos trabalham, e a máxima autoridade religiosa é o pastor, que educa seus filhos de forma autoritária - infringindo castigos morais e físicos sobre qualquer desvio de conduta. A fita branca que dá título ao filme é uma fita que o pastor amarra no braço de seu filho mais velho e no cabelo de sua filha mais velha – ambos adolescentes - para que se lembrem da “inocência” e da “pureza” perdida da infância. Em uma cena impressionante do filme, a filha mais velha do pastor desmaia como única saída para a pressão psicológica imposta pelo pai.
Nessa aldeia, as aparências e os papéis sociais ocultam famílias marcadas pela culpa e pela moral, onde as grandes vítimas são as crianças e as mulheres.
A culpa e o castigo são as grandes estrelas do filme de Michael Heneke. O filme mostra que o fascismo, longe de ser algo imposto por um Estado aos indivíduos, é algo presente que é reproduzido em uma sociedade onde os valores estão fundamentados na culpa e no castigo.
Logo no início do filme, o narrador - que também é um dos personagens da história - nos avisa que os fatos acontecidos na aldeia poderiam explicar outros fatos da história alemã alguns anos depois. O filme termina com o início da primeira guerra mundial.

A história alemã nos evidencia que durante a primeira guerra mundial, sindicatos de trabalhadores já influenciados pela revolução russa de 1917 promoveram várias greves, resultado da ausência de entendimento entre trabalhadores, patrões e o governo exercido de fato pelos militares durante a guerra. Em novembro de 1918, social-democratas e comunistas derrubam o império e proclamam a república. Nesse momento, as tropas alemãs, apesar de posicionadas em território inimigo, não tinham mais condições de ganhar a exaustiva guerra, pela insuficiência de recursos e esgotamento físico – obra principalmente da incompetência de seus generais, que governavam a Alemanha até aquele momento. Essa mesma elite militar alemã, oriunda de uma tradição militarista prussiana, iria ser um dos pilares do futuro regime nazista.
A república, chamada de República de Weimar, liderada pelos social-democratas e proclamada graças à pressão dos comunistas, aceitou o armistício proposto pelas potências aliadas no Tratado de Versalhes, que infringiu ao Estado alemão grandes perdas territoriais e econômicas.

A partir do final da primeira guerra, é propagada profundamente entre os alemães a idéia ilusória de que judeus e comunistas foram os responsáveis pela derrota de 1918, o que iria fundamentar um nacionalismo amplamente marcado pelo ódio e intolerância, baseados na culpa e no castigo, intrínsecos à sociedade alemã (mas não apenas à sociedade alemã, e não apenas no “distante” século XX).
A crise econômica de 1929 contribuiu para o cenário que levou a ascensão dos nazistas ao poder – através do voto popular, é bom lembrar - que propunham através de seu füher uma sociedade militarizada onde os responsáveis pela derrota de 1918 tinham que ser castigados e eliminados para que a Alemanha pudesse encontrar a pureza (sobretudo racial), a perfeição e a inocência perdida, dando margem a toda espécie de atrocidades contra judeus, comunistas, estrangeiros, homosseuxais, ciganos, anarquistas e todos aqueles que os nazistas acreditavam representar uma ameaça ao seu regime - os culpados da derrota de 1918.

Na verdade, diante do fascismo qualquer um que tenha uma chama de humanidade é uma ameaça. O final desse filme todos teríamos que conhecer.