Toda segunda-feira quando vou para o trabalho, passo de ônibus pela frente do bar que costumo freqüentar na Lapa às 5 da manhã, só que na segunda-feira estou indo trabalhar, e nos dias que freqüento o bar, dificilmente fico até esse horário. Ontem era feriado e por coincidência eu estava sentado no bar bebendo a derradeira às 5 da manhã, quando passa pela minha frente o ônibus que eu pego para ir ao trabalho. Olhei com atenção para as pessoas que olhavam pela janela do ônibus. Lá dentro do ônibus, vi um sujeito sonolento que parecia olhar com certa inveja para mim ali sentado. O cara parecia um pouco mais velho que eu e estava bem sério, enquanto eu, ali na mesa sentado, carregava um leve sorriso no rosto, próprio da embriaguez constante de horas. Isso me deixou meio sem jeito, fiquei com receio que meu sorriso agredisse a sua seriedade, até porque o cara parecia um sujeito honesto. Parecia tão cansado quanto eu, mas seu cansaço era diferente, era aquele cansaço de quem acordou cedo para ir trabalhar, enquanto o meu era o bom cansaço de quem cumpriu sua missão de resistência festivo-etílica na noite da Lapa.
Eu ali sentado à mesa, a derradeira companheira à minha frente, olhei bem nos meus olhos na janela daquele ônibus, e me ofereci um brinde.
Gostei do seu texto.
ResponderExcluirMe permita acrescentar
....E neste gesto brindou por muitos à beleza fugaz destes momentos raros na banalidade do cotidiano, nos quais alcançamos esta conexão refletida e nos encontramos com nós mesmos na multidão de "eus" singulares; vivendo, cada qual, suas possibilidades de existir no contexto comum.
Abraços